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lunes, 29 de agosto de 2016

Declarações de Ambrósio Lukoki

Fonte :Unitaangola
Declarações de Ambrósio Lukoki por ocasião do VII Congresso do MPLA
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Caros congressistas
Caros membros do Comité Central do Partido MPLA

Os ecos das últimas sessões ordinárias e extraordinárias do Comité Central e dos Congressos Extraordinários do Partido MPLA ao longo deste período, espelham as definições feitas e as decisões tomadas quanto aos preparativos e a realização deste congresso que, segundo o seu processo orgânico, se quer o VII congresso ordinário do partido.


Ao que eu saiba e do meu humilde ponto de vista, as acima referenciadas definições iludidas, não resultaram de qualquer esforço e sinergia do Comité Central no seu conjunto, ainda menos das bases do partido, se não propositada e prontamente impostas pelo Bureau Político, ignorando as legítimas reivindicações assim como dos pronunciamentos dos militantes e das largas massas dos membros do MPLA; isto é, pratica errada, nociva e contínua que, caracterizam a actual direcção do partido MPLA.

Por ainda quanto tempo: curto ou longo possível, para evitar ou esmagar ondas de protestos, ou na última instância justamente corresponder, abraçar ou acolher a opinião pública militante?

É preciso e importante e inevitável saber objectivamente ler, viver, se fazer ou ter uma percepção dos sinais dos tempos. Daqui há um tempo à frente e de uma maneira cada vez mais exigente e profunda, a situação no seio do MPLA merece uma inversão. O partido MPLA é um partido-estado de baixo ou sofrendo de uma alta tensão.

Necessário se torna não continuar e afundar-se ou perder-se nesta posição cada vez
mais inconfortável.
Desta feita, sem ambiguidade, o partido MPLA deve, inevitavelmente, revisitar a confiança das largas massas militantes e dos membros do partido, pelo facto de o espírito de revolta ou de insurreição silenciosa e larvada estar a espalhar-se, e cada vez grande e profundamente.

Não devemos nos derrubar ou enganar, porque o tal espírito de (…) protesto, de revolta ou de insurreição progride e aprofunda-se de uma importância exponencial.

Não temos necessidade de dirigentes postiços. O país tem necessidade de constância, de autoridade e de ética. É preciso que tenhamos discursos e palavras de gravidade, através dos quais se deve dar ou se dá sentido à acção do partido e das perspectivas nos momentos em que tudo deve marchar muito depressa.

Como militante do MPLA, não ficarei só para ficar, mas sim, para agir dentro do militantismo combatente. Façamos uma aposta de inteligência colectiva; não parto habitado com ideias pré-concebidas na minha cabeça, mas sim, as ferramentas a este fim ou propósito, objectivamente existem. Há uns anitos já, as massas de militantes membros do Partido, nós, os dirigentes do partido-estado, continuamos a enviar mensagens ou sinais coersivos, destrutivos que, cada vez mais e sempre continua a nos separar ou cortar do eleitorado. Como cidadão, qualquer angolano pode pretender figurar de entre as personalidades políticas de preferência de um partido e do povo angolano.

Certo é que, a nossa popularidade, realmente enganadora, não cessa e constantemente continua a derreter-se. O presidente do partido e chefe do estado, registando uma impopularidade record pelas suas desinteligências, conota o partido e arrasta na sua queda certos inocentes do MPLA. A impopularidade que está a granjear o partido é o preço a pagar pelo partido MPLA quanto a sua (…) de instrumento ou trampolim ao Eng José Eduardo dos Santos para o seu absolutismo em tudo.

Enquanto o Partido MPLA não se dissociar do Eng José Eduardo dos Santos, não poderá reconquistar e conservar as suas características do partido de vanguarda. O partido MPLA deve alimentar esse desejo pelo facto de se erradicar na sua cultura e por isso dispõe dos meios indispensáveis e seguros para tal.

Também, e, sobretudo, revela-se ou evidencia-se uma desaprovação severa na linha social liberal assumida pelo presidente e, um certo grupo no seio do partido.

Segundo as últimas conquistas avançadas pelos “Angola sempre a subir”, o MPLA reafirmou o seu carácter de partido de Esquerda não radical.

Para mim, Partido de Esquerda não radical, não quer dizer nada, se não o MPLA não é nem peixe nem carne, colocando os membros do Partido MPLA, diante de um jogo duplo de um partido da obediência social neo-liberalismo e não da obediência social comunista. Ou em outras palavras o MPLA é partido da obediência neo-comunismo e não da obediência neo-liberalismo. O partido MPLA não sendo nem social liberal nem neo-comunista, o MPLA é quê? Apresentando-se à massa militante e aos membros do partido num dilema entre os dois «ismos». Mas, mais uma vez estamos diante da história do jacaré que estando à beira do rio, portanto, fora da água do rio, tenta fugir da água da chuva e vai para a água do rio. Resolveu o quê?

No fundo da matéria, o partido MPLA estará diante de dois eixos:
1. Querendo se dessolidarizar, ou demarcar-se do comunismo do momento da queda do murro de Berlim, do campo dos países que se denominavam socialista e da desintegração da URSS, e;
2. Encontrando refúgio ou amparo no social democracia neo-liberalismo, concomitantemente na Rússia de hoje, neo-comunismo.

É este o mundo que existe entre os dois «ismos» que o partido MPLA através dos seus membros, muito particularmente seus militantes, deve ser chamado e submetido em se redefinir para a sua não ambiguidade, para a pureza da sua vida, revisitando da esbanjando-se nos preceitos do MPLA original.

Nos congressos dos tempos do MPLA de hoje, aqueles dos congressistas que esperariam expor as suas preocupações sempre repartem frustrados. Isto, porque, a participação nesses últimos, sempre não atinge, não embica na profunda análise minuciosamente feita ou no desabafo, sonho de certos militantes, depois do fim de uma visão de pesadelo. À cada vez das repetições dos tais congressos, mais extraordinários e nunca estatutário, o partido MPLA sempre se lança num exercício das suas introspecções de cuja a direcção é o possuidor exclusivo do segredo.

Os acima referidos congressos sempre num período que antecede a sua realização são precedidos por momentos, movimentações emocionais comoventes de promoção delirante e exuberante, evidentemente, fixando os contornos a que devem obedecer o evento e o conteúdo do próprio evento.

No que me concerne, sempre queria ser o útil e ajudar a sucesso ou êxito do partido MPLA. Não podemos duvidar das válidas contribuições, entusiasticamente esperadas e à consideração de todos nós, para consolidação e o bem-estar do MPLA em todas as matérias afins.

Certamente, esta posição, assim assumida, encontrará eco nos militantes. Nós, membros do partido, como testemunham as preocupações que nos habitam, a síntese reunida das acimas referidas contribuições, certamente, prestaria a evocar um estado de espírito triste, duvidoso, tímido, mas construtivo. E, indicaria ou traçaria um balanço pouco ameno da política da direcçção. Os membros do partido seriam mais orgulhosos e fiéis de serem militantes do partido, se certos dos seus responsáveis ou eleitos em seu nome, não traíssem e se não se exonerassem das suas responsabilidades.

A dúvida identitária está papável no conjunto das estruturas e órgãos, organismo e organizações do partido MPLA.

O receio de escamoteamento da discussão de fundo está manifesto. Vejamos, por exemplo, uma proposta de debate sobre o tema, “O que é ser um militante do MPLA nas condições de Angola de hoje”? Alguns militantes interrogam-se: o que somos?

Porque é que estamos no partido MPLA? Para onde é que se vai e com quem?
Estas e outras questões, pequenas, mas sensíveis nem sempre são abordadas. No lugar destas, as estruturas intermediárias em concordância com a direcção nacional, muitas vezes preferem submeter-se a interrogação sobre a solidariedade em duas velocidades: a liberdade e viver juntos, ou ainda desenvolvimento em igualdade na vida dos territórios do país. Estes temas são aqueles em que o número de intervenientes deixam poucos lugares ou nada para o debate com audiência.

Fala-se demasiado de nós, do nosso egocentrismo. É preciso reencontrar o caminho dos grandes, sérios debates sobre a sociedade. Cremos que pelo trabalho de todos, o partido MPLA, um dia sairá desta.

É preciso que um bailado de idéias tome o lugar do bailado de egos. Não devemos continuar a praticar o jogo de debilitação e destruição do partido.

Muitas vezes sonolentos perante os acontecimentos do partido e de Angola, para antes de serem, enfim acordados pelas intervenções famejantes de alguns últimos movimentos combatentes ainda de pé no partido.

Indicando a nossa parte, no que respeita a questão das autarquias, dissemos que aquelas reuniões não são mais nada que o início de um processo que deve redefinir o mapa da identidade dos militantes do partido. É por isso que necessário se torna tomar decisões prudentes sobre a matéria que, em primeiro lugar exige coragem política.

É todo partido que é chamado de nele participar militante e activamente. Questões de diferenças, diversidade e identidades entre os angolanos, continua a ca usar muita desolação e tristeza, referindo-se à confrontação e ao ódio. Cada angolano mantém-se fechado no seu ponto de vista, ao passo que os angolanos devem construir e devem edificar uma memória comum.

A solução nacional reside e virá da preservação daquela memória colectiva. É preciso libertar-se. Através de um trabalho de fundo, devemo-nos desembaraçar de todos os imaginários possíveis.

Agora, é aos membros cessantes do actual e aos candidatos ao Comité Central do partido MPLA que me dirijo.

Pelo respeito ou veneração aos combatentes da liberdade, justiça e independência de Angola, e em meu nome pessoal, humildemente venho apresentar a todos os melhores os meus melhores votos. Tal como se deu para este ano que nos chegou, todo engajado e do VII Congresso ordinário do Partido MPLA.

Naturalmente, formulo os votos de saúde, regozijo e o bem-estar dos vossos como também de vocês próprios, sobretudo ao presidente do partido, Eng José Eduardo dos Santos, para que a esperança de um futuro melhor seja sincera, honesta, real e cada vez mais risonha para todos os angolanos.

A militância, é ela que alimenta nossas convicções, estimula e anima nossos actos. A militância é ela que sustenta ou entretém a energia e a firmeza dos nossos engajamentos cada vez mais renovados. Indo para além, as circunstâncias ou mais prosaicamente, os acontecimentos que vivem a nossa mais querida Angola, leva-me a desejar que todos tenhamos mais força, mais coragem, mais sabedoria nos combates em que somos, livremente inscritos ou em que nos encontramos livremente engajados com coração e com razão.

Esses combates para a liberdade e para a justiça, automaticamente correspondem às nossas demandas insaciáveis de progresso e desenvolvimento para Angola e toda a humanidade. Esses combates que sustentam ou expressam os nossos juramentos, são transmitidos através de uma ligação intrínseca pelos nossos ancestrais. Nunca estão acabados ou terminados e em Angola de hoje, estamos longe disso.

Espero, desejo, que tenhamos também a sorte e a felicidade de correctamente transmitirmos esses combates aos nossos sucessores com a consciência de termos significativamente contribuído ao melhoramento moral e material de Angola na humanidade.

Desejo-vos sempre mais coragem, ainda mais coragem no sentido de empreender e realizar aquilo que se pode, e, podemos, normalmente, porque o exemplo que se refere aos valores que dignificam o homem, aquele que inspira os actos consequentes pela humanidade, aquele exemplo autêntico, é um potente e formidável fermento. E, o tempo, inexoravelmente não tarda quando não fermenta.

Também, desejo-vos sempre mais força; não é justamente aquele de empreender; mas, sim, exactamente a força de renunciar, de o fazer imediatamente, quando a razão nos leva ou nos faz ganhar consciência real de que as coisas não podem ser mudadas imediatamente, mas, sim, progressivamente.

Se é que se deve fazer o que se deve, assegurar-se de transmitir e de bem transmitir, pode-se também na situação do género, para o resto, fazer confiança à humanidade, pelo facto de ser cheio de recursos variadíssimos. É, também, necessário força para parar aonde se deve parar, enquanto pode ser não atentário de continuar e finalmente tão fácil de comprometer o conjunto da obra.

É necessário a força para transmitir aquilo que se deve, evidentemente quando se deve, no fim da sua missão e do seu ofício.

Desejo-vos a tal força, desejo-vos sempre guardar aquela lucidez que nos é aconselhada no memento de servir o povo angolano.

Responsabilidade é também de aceitar que não se está em medida ou na capacidade de responder, e pode ser mesmo que não tem de responder, quando mais se faz bem o que se deve, para que os outros nos sirvam de interpretes. Desejo-vos aquela força!

Caros membros do Comité Central do MPLA,
Caros congressistas!

Chama-nos ou recomenda-nos a militância a solicitar a sabedoria, porque ela permite-nos conhecer a diferença entre a primeira e a segunda; isto é, entre a coragem e a força. Tenhamos a inteligência e a sabedoria.

Termino a minha intervenção, agradecendo mais uma vez a vossa presença aqui, nesse recinto humilde, e, creio que, com esse trabalho, vamos continuar nos próximos tempos a falar sobre os problemas que nos dizem respeito.

Obrigado.

Jornalista: Exacto. Obrigado senhor embaixador. Tínhamos só algumas questões a colocar. O documento foi bastante ilucidativo: apresenta a sua posição e pontos de vista sobre o actual momento do partido, sobre o congresso e outras situações; e, sobretudo dirige a sua mensagem aos militantes e também aos congressistas e os militantes das bases, inclusive, também aos membros do Comité Central Cessante, e aos aspirantes a membros do Comité Central nesse congresso que inicia amanhã.

Senhor embaixador, a questão que queríamos colocar primeira: exactamente o VII congresso vai eleger um novo comité central. O senhor embaixador está na lista de aspirantes a membro do Comité Central; renunciou esta proposta, vai continuar no comité central ou não senhor embaixador?

Embaixador Ambrósio Lukoki: Creio que é uma questão pacífica, porque, aquilo que se devia dizer, se não se diz é que, a definição partiu de mim proprio, como militante que tem participado ao longo dos anos a nível superior da direcção do partido, portanto, o Comité Central é o poder máximo, portanto, que submete todos. A questão que coloca é realmente uma iniciativa minha pessoal, porque, cheguei à conclusão de que estar num Comité Central já não tem sentido, porque o Comité Central não faz a sua função. É-lhe imposta posições que deve aprovar, sem a tal discussão; não diria vir só primeiro das bases, mas como membro do Comité Central responsável aquele nível que tem problemas de organização política, económica e social do país, tendo em conta o facto que o MPLA é o partido que detém o poder em Angola.

Essa questão à mim se colocou: o que é que estou a fazer aí, se várias vezes tento dar a minha contribuição, há rejeição. Rejeição que não é com base numa discussão que objectivamente demonstra que estás numa posição errada e temos que praticar a posição justa, não sei quê, correcta que você não está a praticar.

Portanto, esse sentido do trabalho, para um membro dum Comité Central e um Comité Central responsável, não pode ficar adormecido só a aprovar decisões, medidas e posições que vêm de imposição.

Jornalista: O senhor embaixador é um histórico do partido. Ao tomar essa decisão, essa posição pensou um bocadinho nas repercussões, o que é que os outros militantes vão decidir, ou espera também com esta sua posição, poder, de alguma forma, podemos usar outro termo, despertar a coragem de outros militantes, inclusive na sua declaração também falou nesta coragem.

Embaixador Ambrósio Lukoki: Nós todos estamos numa vida política, e, o político tem que ter a inteligência e tem que ter a sabedoria. São duas coisas diferentes, e daí é que cada um se define.

Jornalistas: Não partilhou essa posição com outros militantes ou não tem falado sobre esses assuntos com outros militantes do partido?
Embaixador Ambrósio Lukoki: Não. Eu, se falava é no Comité Central. Para já não participo em nenhuma célula de base do partido...

Jornalista: Não tem um cargo?

Embaixador Ambrósio Lukoki: Porque vou participar lá? Então, porque é que eu vou discutir com aquele de base, se as coisas não são propriamente posta à mesa em si e, serem discutidas.

Jornalista: Senhor embaixador para terminar, vai estar no congresso a partir da manhã e até sábado, vai participar?

Embaixador Ambrósio Kukoki: Vai depender como é que vou dormir e acordar.

Jornalista: Senhor embaixador, muito obrigado.

Embaixador Ambrósio Lukoki: Obrigado.