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lunes, 5 de mayo de 2014

24/04/2014 - ANGOLA: GENERAL NUMA EXPLICA SOBRE BATALHA DO KUITO KUANAVAL

General Numa apresenta versão da UNITA sobre Batalha do Kuito Kuanavale

Luanda - Sob o lema “A contribuição da UNITA na construção da paz regional”, o general Abilio Kamalata Numa,  apresentou nesta  quarta-feira (23), no centro de Convenções de Talatona em Luanda, a versão do seu partido sobre as principais batalhas militares ocorridas ao longo do conflito armado com destaque as do Kuito Kuanavale. 
Fonte: Club-k.net
“A dita Batalha do Kuito Kuanavale é deturpação da História se for esta perspectiva que está a ser ensinada nas nossas escolas militares então está a prestar-se um mau serviço ao país”, disse antigo comandante das forças lideradas por Jonas Savimbi nas linhas que se seguem.
- Caros convidados!
-Senhoras e senhores!
Bem-vindos a este ciclo de reflexão como contribuição da UNITA a História recente do nosso país, escrita com letras de ouro pela sua nobreza e grandiosidade, mas também desentendimentos que nos levaram a conflitos desnecessários.
Conhecemos o valor da paz e sabemos que a nossa paz só serve se for destituída de egoísmos, humilhações e inverdades. A paz real é aquela que aponta para a liberdade e se abre para a democracia.
Esta oportunidade está apontada para a clarificação dos factos que ajudaram a mudar a geopolítica na Região Austral de África e bem como a contribuição decisiva da UNITA para que tal desiderato se concretizasse.
Na qualidade de antigo guerrilheiro e co-fundador das Forças Armadas Angolanas-FAA, junto com o General João Baptista de Matos, estou bem colocado para falar das grandes Batalhas que foram decisivas em mudar a estratégia expansionista da URSS e determinaram o curso negocial para a independência da Namíbia, a libertação de Mandela, a democratização da África do Sul, a retirada das tropas cubanas e assessores russos de Angola e negociações directas do governo de Angola com a UNITA.
Vejamos os momentos mais altos que definiram o processo da aplicação da estratégia político-militar da UNITA, depois de obrigada a abandonar as cidades a 8 de Fevereiro de 1976.
através de um estudo que passaremos a projectar.
Foi fundamental a realização do IV Congresso da UNITA a 23 de Março de 1977 na Benda Província do Huambo há 80 quilómetros da sua capital, onde se traçou a estratégia da Guerra Prolongada, reconfirmando as decisões da Conferência do Kwanza que produziu o “Manifesto do Kwanza” no Sandona, margem direita do rio Lungué-Bungu em Maio de 1976.
O Estado-Maior Coronel Valdemar Pires Chindondo com a orientação do Alto Comandante das FALA Dr. Jonas Malheiro Savimbi, lançou nessa altura o laboratório de aplicação da estratégia decidida no IV Congresso juntando ex-militares angolanos do exército português com instrutores formados na Tanzânia e Zâmbia que resultou na formação da primeira unidade semi-regular Comandante Samanjolo, peça importante na criação da primeira Base Revolucionária de Apoio a sul da cidade do Kuito na província do Bié e de onde partiram comandantes e unidades para áreas de expansão e cadetes para treinos na Namíbia e outros países.
Em 1982, consolida-se a Base Revolucionária de Apoio Central com a capital na Jamba. E neste ano realiza-se o V Congresso da UNITA aos 26 de Julho que reavalia a estratégia da guerra Prolongada e decide a criação das Frentes Estamos a Voltar e Frustração do Povo, decisiva na transposição da guerra para as Província do Kwanza Norte, parte norte de Malanje, Províncias de Luanda, Uige, Zaire e Cabinda.
Chegados aqui, a Guerra pós-colonial passou a ter objectivos bem específicos, com a UNITA a definir sua estratégia de forçar as negociações com o governo sintetizada na palavra de ordem “Menongue ponto de partida, Luanda ponto de chegada”, enquanto o governo passou a priorizar a estratégia da retomada de Mavinga e destruir a Jamba e relançar sua estratégia sintetizada na sua palavra de ordem de Angola trincheira firme da revolução em África.
Estas visões estratégicas foram as causas das grandes Batalhas que ocorreram no Teatro Operacional do Kuito Kuanavale, Mavinga e Jamba, Nomeadamente a Batalha “Saudemos o 2º Congresso” denominação dada pelas FAPLA e seus aliados e Lomba 85 como resposta por parte das FALA que ocorreu entre Junho e Dezembro de 1985, a Batalha “Saudemos Outubro” denominação dada pelas FAPLA e Lomba 87 como resposta por parte das FALA que ocorreu entre Junho de 1987 e Maio de 1988 e a Batalha Último Assalto denominação dada pelas FAPLA e Lomba 89 como resposta por parte das FALA que ocorreu entre Outubro de 1989 e Maio de 1990. Essa foi das únicas Batalhas onde as FAPLA estiveram sem seus aliados.
Quanto a dita Batalha do Kuito Kuanavale não passa de outro mito criado pelos políticos, usando militares que não estiveram neste teatro de operações e nem respeitaram aqueles que estiveram envolvidos directamente nos combates do Lomba 87.
O que há é a deturpação deliberada dos conceitos e dos factos que ocorreram, porque em Junho de 1987 foram às tropas do governo com seus aliados russos e cubanos que partiram em ofensiva para ocupação de Mavinga e destruição da Jamba, essa ofensiva definiu em termos conceptuais o que é uma Batalha que teve as suas fases de planeamento, execução do ataque, marcha para o contacto, ataque, exploração do sucesso que não se fez por parte das forças em ofensiva e bem como a perseguição que também não se executou, porque dia 11 de Outubro de 1987, verificou-se a grande reviravolta no Teatro das Operações com a destruição da 47ª Brigada na nascente do rio Lomba e essa era força principal das FAPLA nesta Batalha. Este facto está bem narrado no livro do coronel cubano Manuel Rojas García em “Prisioneiros da UNITA nas terras do fim do mundo” nas páginas 29, 30, 31, 32, 33 e 34.
 Também a 9 de Novembro aconteceu a destruição da 16ª Brigada na nascente do rio Chambinga.
A partir daí, as FALA e seus aliados passaram para a contra ofensiva perseguindo as tropas do governo até a área dos rios Chambinga e Tumpo, desgastando-as ao máximo para se prevenir de futuras ofensivas e ao mesmo tempo em que se desenvolvia a estratégia de ataques em volta de Luanda para se forçar as negociações. Só assim se percebe porque passados dois anos as tropas do governo voltassem a última ofensiva sobre a Jamba que intitularam de último Assalto.
Se a 47ª Brigada foi destruída dia 11 de Outubro e a 16ª Brigada a 9 de Novembro, onde o comando das FAPLA foi buscar as unidades para a dita Batalha do Kuito Kuanavale que dizem ter iniciado a 15 de Novembro do mesmo ano?
Foi nesta operação de exploração da vitória e perseguição das tropas em debandada que as FALA e seus aliados caíram no campo de minas colocadas por cubanos na área do rio Tumpo dia 23 de Março de 1988 e com o resultado de destruição de dois tanks. Nessa altura o comando de defesa do Kuito Kuanavale tinha passado para os cubanos, através do general Oshoua e a 50ª Divisão especial das FAR (Forças Armadas Revolucionárias de Cuba) com intervenção directa de Fidel de Castro a partir de Havana.
Os verdadeiros militares sabem que quando se ganha numa operação os passos seguintes são de exploração militar da vitória, perseguindo as tropas derrotadas. Os generais que defendem a existência da Batalha do Kuito Kuanavale que libertou a África, expliquem como exploraram esta vitória e como perseguiram as tropas derrotadas. Expliquem porque não foram até a Jamba e porque os governantes foram obrigados a negociar Bicesse quando o objectivo da guerra era acabar com a UNITA? E se não foi este objectivo expliquem porque a guerra durou 16 anos?
A dita Batalha do Kuito Kuanavale é deturpação da História se for esta perspectiva que está a ser ensinada nas nossas escolas militares então está a prestar-se um mau serviço ao país.
No livro “Border War 1966/1989” de Willems Steenkamp cita o general Oshoua comandante das tropas cubanas em Angola que disse, ”Eu fui enviado para uma guerra perdida, para em contrapartida ser condenado pela derrota”.
Numa guerra, estrategicamente ganham-se políticas, só nas batalhas operacionais e tácticas há vitórias militares, infelizmente há militares e políticos que desconhecem esta contextualização político-estratégica da guerra ser a continuação da política por meios violentos. Em Angola a vitória do povo foi a conquista do Estado Democrático de Direito e não do Regime da Ditadura do Proletariado e de Partido Único. Se a Jamba tivesse sido tomada o curso da geopolítica na Região Austral de África não teria conhecido o desfecho que vivemos hoje.
Angola e os angolanos clamam por memoriais que os reconciliem e não os monumentos que exaltam aliados estrangeiros contra seus compatriotas e que nos dividem. Tenhamos a coragem de erigir um monumento em homenagem aos combatentes pela luta anti-colonial e independência de Angola.
Muito obrigado!